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sexta-feira, 4 de novembro de 2011


Lixo aumenta risco de enchentes em Belém
O lixo que se acumula nas ruas e proximidades de canais de Belém aumentam o risco de enchentes na cidade. A cidade é considerada a segunda mais suja do país.
Com as fortes chuvas e o aumento considerável do índice pluviométrico na região, Belém pode sofrer com pequenos alagamentos em vários trechos da cidade. O acúmulo de lixo potencializa o efeito das chuvas e ocasiona verdadeiros desastres na cidade.
Belém é uma cidade cercada por duas grandes massas de água (a Bahia do Guajará, do lado esquerdo; e, do lado direito, o Rio Guamá), entrecortada por igarapés em 14 bacias, onde chove três mil milímetros por ano, principalmente nos meses de janeiro a abril. Nessa época do ano, é recorrente ver as cenas de ruas alagadas, casas inundadas, trânsito parado por conta das cheias em alguns pontos críticos da cidade, os quais não estão preparados para receber tanto volume de água. Alguns pesquisadores chegam a afirmar que a Metrópole da Amazônia é uma cidade quase subaquática, pois 30 a 40% das terras de Belém estão abaixo do nível do mar. 
É o que explica o engenheiro civil e sanitarista, professor aposentado e ex-prefeito da Universidade Federal do Pará, Luiz Otávio Mota Pereira. De acordo com o professor, se pensarmos na altimetria de Belém como um todo, perceberemos que um grande divisor de águas é formado pelo “espigão” das avenidas Presidente Vargas, Nazaré, Magalhães Barata, Almirante Barroso e BR-316. Os bairros que se encontram nesse espigão, para o lado da Bahia do Guajará, pertencem às bacias do Comércio, da Tamandaré, do Reduto, da Doca de Souza Franco e do Una, esta última sendo a maior bacia de Belém, com 3.600 hectares que passam por 13 bairros.
Para o lado que drena em direção ao Rio Guamá, além de outras menores, estão as bacias da Estrada Nova e do Tucunduba, cujo dreno (igarapé principal) atravessa a cidade universitária. Estas duas grandes bacias são densamente povoadas, ocupadas desordenadamente, praticamente sem nenhuma área para que ocorra a infiltração de águas no solo e seja mantido o ciclo hidrológico urbano das chuvas. Os canais principais estão obstruídos por falta de limpeza e por casas que se colocaram em locais inadequados.
Atualmente, na bacia da Estrada Nova, que compreende cerca de 900 hectares, onde vivem aproximadamente 350 pessoas, está sendo executado o Projeto Portal da Amazônia, o qual prevê a recuperação de toda a orla da Bernardo Sayão, além de obras de micro e macrodrenagem. Os trabalhos estão apenas em fase inicial. De acordo com o professor Luiz Otávio, que também já atuou como secretário de Saneamento e Urbanismo em Belém, há necessidade de se atentar para a urgência em melhorar a qualidade de vida dessa população.
SOLUÇÃO - A partir desse objetivo e com base em estudos desenvolvidos dentro da sala de aula da Faculdade de Engenharia Sanitária e Ambiental / UFPA, onde ministrou aulas de Drenagem Urbana e Controle de Cheias, o ex-prefeito do Campus concebeu um projeto de macrodrenagem inovador. “Se circularmos pela Estrada Nova observando todos os seus canais e afluentes, percebemos uma necessidade de alargar suas dimensões. Dessa forma, o meu estudo aponta a possibilidade de, a partir da Fernando Guilhon, fazer com que a orla seja um alargamento da Bernardo Sayão, com uma plataforma sempre de 70 metros, havendo duas pistas com três faixas em cada sentido, canteiro central, calçadão, canais devidamente dragados e revestidos, além de comportas em cada foz para manejo das águas do Rio Guamá, que inundam, em grande parte, a bacia, bem como as áreas internas de acumulação de água”, explica.
A concepção dessas áreas de acumulação de água seria como a dos “piscinões” que estão sendo feitos na cidade de São Paulo. “Aqui, em Belém, no canal principal, o da Quintino, seriam quatro “piscinões”, que, inclusive, poderiam ter lâminas d’água para serem aproveitadas para o lazer, como a utilização de pedalinhos”, continua Luiz Otávio. Atualmente, estão sendo realizadas as obras em canais das travessas Dr. Moraes e 14 de Março. “Isso cria uma grande expectativa para a população. Porém, não acredito que o problema das enchentes poderá ser resolvido, pois está se cometendo um mesmo erro que é histórico”, avalia o sanitarista.
Luiz Otávio Pereira explica que, no início, os canais e galerias foram construídos na parte alta de determinados bairros, como a baixada do Marco, Canudos e Terra-Firme, que lançam águas no canal Tucunduba, o qual se encontra obstruído, sem dragagem e sem comportas. “Alguns colegas discordam, mas eu acredito que a construção de uma bateria de comportas, nessas situações, se faz fundamental. Proponho esse fato até para debate no ambiente acadêmico”, afirma.  No Tucunduba, as comportas seriam construídas um pouco mais acima que os canais, à montante, e localizadas na Rua São Domingos, para bloquear as águas das cheias do Rio Guamá.
“Acredito que seja necessária uma parceria entre governo, prefeituras e universidades para a elaboração de um Plano de Manejo das Águas Pluviais que possa contemplar toda a Região Metropolitana de Belém e resolver o problema das cheias. Além disso, é necessário pensar num plano eficiente e contínuo para a manutenção dos canais, com o uso de equipamentos adequados associado a uma ação educativa com a população e de fiscalização junto a empresas, com cobrança de multas, para evitar a obstrução dos canais por conta de lixo”, observa o professor. A ideia é formar um grupo multiprofissional para acompanhar os projetos e obras, melhorando, assim, a qualidade de vida da população.

Rodrigo Mota Botelho

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