Lixo aumenta risco de
enchentes em Belém
O lixo que se acumula
nas ruas e proximidades de canais de Belém aumentam o risco de enchentes na
cidade. A cidade é considerada a segunda mais suja do país.
Com as fortes chuvas e o
aumento considerável do índice pluviométrico na região, Belém pode sofrer com
pequenos alagamentos em vários trechos da cidade. O acúmulo de lixo
potencializa o efeito das chuvas e ocasiona verdadeiros desastres na cidade.
Belém é uma cidade cercada por duas
grandes massas de água (a Bahia do Guajará, do lado esquerdo; e, do lado
direito, o Rio Guamá), entrecortada por igarapés em 14 bacias, onde chove três
mil milímetros por ano, principalmente nos meses de janeiro a abril. Nessa
época do ano, é recorrente ver as cenas de ruas alagadas, casas inundadas,
trânsito parado por conta das cheias em alguns pontos críticos da cidade, os
quais não estão preparados para receber tanto volume de água. Alguns
pesquisadores chegam a afirmar que a Metrópole da Amazônia é uma cidade quase
subaquática, pois 30 a 40% das terras de Belém estão abaixo do nível do
mar.
É o que explica o engenheiro civil e sanitarista,
professor aposentado e ex-prefeito da Universidade Federal do Pará, Luiz Otávio
Mota Pereira. De acordo com o professor, se pensarmos na altimetria de Belém
como um todo, perceberemos que um grande divisor de águas é formado pelo
“espigão” das avenidas Presidente Vargas, Nazaré, Magalhães Barata, Almirante
Barroso e BR-316. Os bairros que se encontram nesse espigão, para o lado da
Bahia do Guajará, pertencem às bacias do Comércio, da Tamandaré, do Reduto,
da Doca de Souza Franco e do Una, esta última sendo a maior bacia de Belém, com
3.600 hectares que passam por 13 bairros.
Para o lado que drena em direção ao Rio Guamá, além
de outras menores, estão as bacias da Estrada Nova e do Tucunduba, cujo dreno
(igarapé principal) atravessa a cidade universitária. Estas duas grandes bacias
são densamente povoadas, ocupadas desordenadamente, praticamente sem nenhuma
área para que ocorra a infiltração de águas no solo e seja mantido o ciclo
hidrológico urbano das chuvas. Os canais principais estão obstruídos por falta
de limpeza e por casas que se colocaram em locais inadequados.
Atualmente, na bacia da Estrada Nova, que
compreende cerca de 900 hectares, onde vivem aproximadamente 350 pessoas, está
sendo executado o Projeto Portal da Amazônia, o qual prevê a recuperação de
toda a orla da Bernardo Sayão, além de obras de micro e macrodrenagem. Os
trabalhos estão apenas em fase inicial. De acordo com o professor Luiz Otávio,
que também já atuou como secretário de Saneamento e Urbanismo em Belém, há
necessidade de se atentar para a urgência em melhorar a qualidade de vida dessa
população.
SOLUÇÃO - A partir desse objetivo e com base em estudos
desenvolvidos dentro da sala de aula da Faculdade de Engenharia Sanitária e
Ambiental / UFPA, onde ministrou aulas de Drenagem Urbana e Controle de Cheias,
o ex-prefeito do Campus concebeu um projeto de macrodrenagem inovador. “Se
circularmos pela Estrada Nova observando todos os seus canais e afluentes,
percebemos uma necessidade de alargar suas dimensões. Dessa forma, o meu estudo
aponta a possibilidade de, a partir da Fernando Guilhon, fazer com que a orla
seja um alargamento da Bernardo Sayão, com uma plataforma sempre de 70 metros,
havendo duas pistas com três faixas em cada sentido, canteiro central,
calçadão, canais devidamente dragados e revestidos, além de comportas em cada
foz para manejo das águas do Rio Guamá, que inundam, em grande parte, a
bacia, bem como as áreas internas de acumulação de água”, explica.
A concepção dessas áreas de acumulação de água
seria como a dos “piscinões” que estão sendo feitos na cidade de São Paulo.
“Aqui, em Belém, no canal principal, o da Quintino, seriam quatro
“piscinões”, que, inclusive, poderiam ter lâminas d’água para serem
aproveitadas para o lazer, como a utilização de pedalinhos”, continua Luiz
Otávio. Atualmente, estão sendo realizadas as obras em canais das travessas Dr.
Moraes e 14 de Março. “Isso cria uma grande expectativa para a população.
Porém, não acredito que o problema das enchentes poderá ser resolvido, pois
está se cometendo um mesmo erro que é histórico”, avalia o sanitarista.
Luiz Otávio Pereira explica que, no início, os
canais e galerias foram construídos na parte alta de determinados bairros,
como a baixada do Marco, Canudos e Terra-Firme, que lançam águas no canal
Tucunduba, o qual se encontra obstruído, sem dragagem e sem comportas. “Alguns
colegas discordam, mas eu acredito que a construção de uma bateria de
comportas, nessas situações, se faz fundamental. Proponho esse fato até para
debate no ambiente acadêmico”, afirma. No Tucunduba, as comportas seriam
construídas um pouco mais acima que os canais, à montante, e localizadas na Rua
São Domingos, para bloquear as águas das cheias do Rio Guamá.
“Acredito que seja necessária uma parceria entre
governo, prefeituras e universidades para a elaboração de um Plano de Manejo
das Águas Pluviais que possa contemplar toda a Região Metropolitana de Belém e
resolver o problema das cheias. Além disso, é necessário pensar num plano eficiente
e contínuo para a manutenção dos canais, com o uso de equipamentos adequados
associado a uma ação educativa com a população e de fiscalização junto a
empresas, com cobrança de multas, para evitar a obstrução dos canais por conta
de lixo”, observa o professor. A ideia é formar um grupo multiprofissional para
acompanhar os projetos e obras, melhorando, assim, a qualidade de vida da
população.
Rodrigo Mota Botelho
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